Brasileira é resgatada de tráfico humano em Mianmar após ser aliciada por máfia chinesa: 'passava fome'
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Uma brasileira, que vive em São Paulo, integrava o esquema criminoso. A vítima havia recebido falsas promessas de emprego no estado de Karen, onde vêm sendo erguidos empreendimentos comerciais como hotéis e cassinos
Uma brasileira vítima de tráfico internacional de pessoas em Mianmar, no Sudeste asiático, foi resgatada e repatriada neste domingo (8). Ela havia sido aliciada pela máfia chinesa com falsas promessas de emprego no estado de Karen, onde vêm sendo erguidos, nos últimos anos, empreendimentos comerciais como hotéis e cassinos. Uma brasileira, que vive em São Paulo, integrava o esquema criminoso. Ao GLOBO, a ONG The Exodus Road, que ajudou no resgate junto à outra organização, informou que a jovem não recebia pelos trabalhos e passava fome.
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As tratativas para realizar o resgate da vítima começaram no dia 6 de maio, após ela conseguir pedir socorro por meio das redes sociais à The Exodus Road, que auxilia brasileiros traficados em Mianmar. A coordenadora da organização, Cintia Meirelles, informou que a brasileira já estava em Mianmar há pelo menos dois meses. Ela tinha acesso ao telefone, mas estava sem qualquer dinheiro para a própria subsistência.
— Ela tinha a localização dela e comunicação constante pelo wi-fi, mas estava sem nenhum dinheiro e passando fome. Instruímos que ela fizesse a denúncia junto ao site da Polícia Federal e o preenchimento do formulário para relatar o ocorrido. Também instruímos a família a procurar a Defensoria Pública da União para formalizar a carta de hipossuficiência para repatriamento da vítima — relata Meirelles.
A identidade da vítima, assim como o seu local de moradia não serão divulgados por segurança.
Processo de resgate
Para realizar o resgate, primeiro a ONG acionou o Itamaraty, a fim de que o Ministério das Relações Exteriores enviasse uma carta ao governo de Mianmar solicitando a liberação da vítima. Como não houve resposta, a The Exodus Road se articulou com outra organização que atua no Sudeste asiático para negociar com os próprios aliciadores da máfia chinesa a soltura da brasileira. Eles a liberaram mediante o pagamento de US$ 700 (cerca de R$ 4 mil), usados para realizar o transporte até um hotel em Camboja.
— Todo o transporte foi controlado pela máfia. Eles mudaram o percurso, com trocas de carros, pelo menos três vezes, para despistarem a rota e passarem pelos vários pedágios. A máfia também só permitiu a saída dela porque não imaginavam que a gente estava em conversa com a vítima e que a gente daria esse dinheiro. Já a repatriação dela para o Brasil foi facilitada porque conseguimos apoio do governo do estado em que ela vive — revela Meirelles.
A vítima teve seu nome incluído na lista de difusão azul da Interpol (Blue Notice), o que possibilitou sua localização e posterior resgate. A jovem foi a única brasileira resgatada, mas deixou o local junto a vítimas de outras nacionalidades.
Dois mafiosos presos
Em nota, a Polícia Federal informou que deflagrou, na última sexta-feira (6), a Operação Double Key, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa especializada no tráfico humano em Mianmar. Durante a operação, foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva e medidas cautelares diversas da prisão contra dois cidadãos de origem chinesa, que foram detidos no momento em que desembarcavam no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), em voo procedente do Camboja.
Também foram cumpridas medidas cautelares contra uma brasileira, além de mandado de busca e apreensão em sua residência, na cidade de São Paulo. Ela, no entanto, segue solta e a vítima teme possíveis represálias.
Segundo a PF, o grupo criminoso, composto majoritariamente por cidadãos chineses legalmente estabelecidos no Brasil, aliciava jovens brasileiras. As investigações seguem em curso e os envolvidos responderão pelos crimes de organização criminosa e tráfico internacional de pessoas.
O globo